Campo de Carnaval
Chegaram animados os jovens para o encontro de Carnaval, desejosos de se deixar surprender, na abertura ao novo, de se aproximar mais a Deus, de silenciar o coração, de conhecer a realidade dos migrantes e refugiados e o nosso trabalho missionário.
Procuramos partilhar com os jovens um pouco do que nós missionárias vivemos no retiro[1] que fizemos no começo do ano, que tinha por tema “o medo e a confiança que faz sair do medo”.
Segundo a Bíblia, o medo é a emoção maior na vida do homem e da mulher, está sempre presente na experiência humana. Não é somente uma emoção da pessoa frente a um perigo, e sim tem um grande significado teológico.
Somos criaturas frágeis e o medo nos recorda isso. Podemos tomar consciência de quem somos, fazemos experiência do limite, além do qual não podemos ir. O medo nos serve para dizer que não somos Deus, porém somos feitos a sua imagem e semelhança, somos feitos para a vida, e a morte nos dá medo. Nosso destino, porém, não é a morte, é Deus, e o medo de morrer se torna conscientização de que alguém pode nos salvar: Deus, porque Ele não morre. Reconhecemos que precisamos ser salvos, precisamos de Deus.
Lemos juntos dois salmos: o Salmo 3 e o Salmo 23, que falam justamente de medo e confiança. A seguir, alguns versículos destes salmos:
Sl 3 – Ó Senhor, como são numerosos meus adversários! São muitos os que se erguem contra mim (v. 1)... Mas tu, ó Senhor, és minha defesa, és a minha glória (v. 4)... Não tenho medo da multidão de gente que se lança contra mim de todo lado (v. 7)... Do Senhor é a salvação (v. 9).
Sl 23 – O Senhor é o meu pastor, nada me falta (v. 1)... Restaura minhas forças, guia-me pelo caminho certo, por amor de seu nome. Se eu tiver de andar por vale escuro, não temerei mal nenhum, pois comigo estás... (v. 4).
É a confiança em Deus que sempre está conosco, que nos liberta do medo. É a certeza de que, na Páscoa, o Crucificado Ressuscitado, vivo entre nós, nos libertou do medo da morte. O mistério pascal, acolhido na fé, nos transforma em pessoas novas, diferentes e unidas na comunhão, nos permite atravessar sem medo, com Jesus, tudo o que nos faz sofrer, tudo o que nos assusta e preocupa.
Tivemos uma troca sobre o que despertou em nós a Palavra, que nos impulsiona a viver a confiança nos medos que temos e que a vida cotidiana nos põe como desafio, respondendo cada um em silêncio à pergunta: “Quem sou Eu para você?”.
No sábado, à tarde, fomos na Casa do Migrante da Missão Paz, ao encontro dos migrantes, para vivermos juntos uma tarde festiva. Decoramos a sala con serpentinas para criar um clima de carnaval. As crianças nos esperavam ansiosas e as convidamos para se deixar pintar o rosto, colocar máscaras, preparadas pelos jovens com arte e carinho. As crianças felizes se ofereceram logo e não somente elas mas também os adultos, de várias nacionalidades.
Apresentamo-nos e iniciamos uns cantos e umas danças, timidamente, convidando os migrantes. Alguns se apresentaram contando porque tiveram que deixar o país e nos transmitiram coragem, risco, sofrimento, saudade, preocupaçaão para o futuro, outros agradecidos pelo lugar que os acolhia. Um senhor da Venezuela nos comoveu falando das tantas andanças por diferentes países, sempre dormindo pela rua, a procura de um trabalho para poder enviar ajuda para a familia. Quando pôde enviar algo ficou muito contente em saber que a familia pôde comer por alguns dias.
Um grupo de mulheres angolanas começou a dançar a zungueira, dança tipica de Angola, dançando em círculo e cantando envolvendo crianças e adultos. Uma dança de louvor a Deus, elas explicaram.
Partilhamos bolo, doces, bolachas que os jovens prepararam felizes. Ao nos despedirmos uma criança falou com os olhos brilhantes: ”Estou feliz!”. E um migrante, que estava passando por tantas dificuldades, disse: “Vendo vocês a esperança não morreu”.
Foi um encontro simples e cordial. Pediram para voltarmos mais vezes.
A Palavra que nos conduziu a cada dia foi: “Para que minha alegria esteja em vocês e vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11), que vivemos nesse encontro partilhado a cada minuto: nos serviços, na oração, nas refeições, no encontro com migrantes, entre nós nos grupos de serviço e vida.
Na avaliação dos dias do campo, os jovens falaram que o encontro na Casa do Migrante foi o momento que mais tocou, uma grande e ao mesmo tempo simples experiência:
- “Não imaginava ter um contato direto com os migrantes, um contato tão próximo. Ouvimos falar muito sobre migração, mas encontrar as pessoas é diferente. Nos passam vida”.
- “Ficamos marcados pela fé de cada pessoa, uma fé que os acompanha em todo lugar, um Deus que caminha com eles.”
- “Vivemos uma acolhida recíproca, na humildade, simplicidade, calor humano que já é festa”.
- “Com os migrantes experimentamos que para fazer festa não precisa-se de coisas grandes. A acolhida não é uma coisa grande, simplesmente com a nossa presença e a presença dos migrantes, as grandes coisas estão nas pequenas.“
- “Encontrando os migrantes entendi mais a história migrante de minha familia, dos meus antepassados, no interior tratados como escravos... Hoje aqui novos migrantes, mas o que passam?”
- “Tenho irmãos migrantes no exterior, quero ajudar os migrantes daqui, como uma forma de ajuda para eles lá”.
- “Os migrantes deixaram de lado o sofrimento para estar conosco”.
Foi um campo significativo para todos. Juntos entendemos que temos que nos colocar em jogo!
Rita
[1] Realizado pela profa Bruna Costacurta, da Pontificia Universidade Gregoriana - Roma.
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